24.8.06

Festa de aniversário

Tarde de abril. Janelas abertas, casa clarificada. A moça receava não dar tempo de fazer tudo até a chegada dos filhos. Como o ato não era corriqueiro, ela estava apreensiva.As mão pingando de suor gelado e dentro uma coisa meio sem nome. É que era preciso uma corda, uma escada. Ela pensara em usar batom na ocasião. Hesitara entre um vermelho ou qualquer desses de moças donzelas.Antes de tudo, ir à janela: emoldurada, olhar a rua.Crianças girando num desfoco desatino. Adolescentes enrubescidas com o beijo dos namoradinhos, chapéu quadriculado,bengala, camisa cinzenta,vovôs e cachimbos. Era a sua infância. Era a sua vida. Rosto cor de vela,corpo com tremores frio o suor. . . A moça lembrou que faltava alguma coisa e já era dez para as três, os meninos podiam chegar. Caso desse errado, haveria os comprimidos. Cambaleante, subiu as escadas que levavam ao quarto, em- pur-rou a porta, levou os comprimidos e os pôs num tamborete ao lado. Agora as coisas seguiriam, por dentro uma coisa meio sem nome.
Senta um pouco, respira, olha para todos os lados da casa. Beija as fotos do marido, da menina menor e do garotinho mais velho. O primeiro filho, Henrique, tão amado, tão travesso. Sorriu sem desespero, tomou um gole d'água. A respiração tinha que se apascentar. controlar-se era necessário. Subiu as escadas lenta e aristocrática. Era agora, não teria mais tempo depois. Os meninos e o marido entenderiam depois de algum tempo.Subiu mais um pouco. A corda , a corda é o mais simples. . . Lá do alto, a corda no pescoço- agora é só pular, você consegue,Um , dois , três. . . Súbito, chega o marido com rosas vermelhas e o presente para o dia de seu aniversário.

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