13.3.08

Sobre "Vereda da Salvação"

Terça-Feira , dia 11 de março, tive a felicidade assistir à peça Vereda da Salvação. Texto: Jorge Andrade. Direção: Cristina Streva.
Ao término do espetáculo, estava eu com olhos molhados e corpo trêmulo.
Ora, qualquer pessoa que sinta empatia pelas causas sociais se sentiu tocado por aquela encenação - casamento entre política e religião dos mais densos que já vi.
É necessário um bom grau de concentração , porque a peça é tensão do início ao fim. Um texto marcadamente sertanejo que mostra as veredas de um povo sofrido que encontra esperança na figura esquizo-messiânica do Joaquim, personagem vivido por Girleno de Souza- O cristo -negro-das roças,o que me remeteu ao Auto da Compadecida.
Algo mais me emocionou : ter visto amigos em cena, e vê-los não como amigos , mas como Manoel, interpretado por Galego Galas, Pedro por Mayk Nascimento e Artuliana, personagem vivida por Isadora Feitosa.
À religiosidade fanática do Joaquim e de seus seguidores contrapõe-se, numa bela interpretação, a figura da Artuliana. Mulher que se apaixona por Manoel, líder natural do povo, e que engravida dele, e por isso é perseguida pelos fiéis do Adventismo, Maria Madalena? Mulher maculada de carmim- pois a cor do pecado não é rouge carmim?
A religião apresentada na peça possui particularidades em seus rituais: o banho da purificação é exemplo dessa liberdade que um povo sem doutrinação de clérigos oficiais pode tomar nas suas elaborações religiosas. Liberdade que leva a extremos como sacrifícios de crianças! Fato acontecido . Ainda acontece?
Então entendi porque esse espetáculo foi censurado pelos milicos. gente nua no palco, citação à homossexualidade, a miséria do povo denunciada, a falta de terra e a sede de tudo.
Muito sutil se mostrou a passagem dos personagens de uma religiosidade amena para a total alienação : isso se percebe nos rostos atormentados e nos olhares perdidos que os personagens vão adquirindo à medida que a história vai acontecendo. mudança de figurino em que são citadas seitas que já cometeram sacrifícios humanos.
E para terminar a pergunta que surge na voz de Escurinho e num coro improvisado de atores e espectadores: "Quem é que vai dar tanta coisa nessa porra?"
E a pergunta ainda fica no(a )(i)r. . .
Texto de Renálide Carvalho.

1 comentário:

Anónimo disse...

quero assistir!