23.3.07

Em certa entrevista, Clarice Lispector disse que não era uma escritora profissional. Para ser profissional era necessário que tivesse disciplina, e ela não tinha. Em contrapartida, ela também dizia que nos períodos em que não escrevia ela não vivia, vegetava. Pensei cá com meus botões, que vale salientar, vivem se perdendo por casas erradas, que esses momentos de ausência de vida eram como períodos sem palavras, como frases que ficam na cabeça e não saem pela boca,não escorregam no papel. Imagino que qualquer pessoa que já tenha sentido a alegria da criação,saiba o que Clarice quis dizer.
Esses dias estive conversando com uma amiga sobre o meu incipiente, indisciplinado , feliz e angustiante processo criativo. Esse tema anda em pauta nas conversas por onde passo agora. É que fui selecionada pela secretaria de cultura da prefeitura de João Pessoa, com um livro de poemas que se chama Poemas a Vapor . Depois dessa vitória, sim porque é vitória , sobretudo uma vitória da minha cabeça doente, tenho vivido momentos de muita angústia.
Enquanto escrevia os poemas a vapor, me curava e de quando em quando era tomada por êxtases. Não pensava se era errado, se era pecado-haha, nem pensava muito nos controles. Minha busca incessante era a da palavra justa, do acento honesto, do ponto e da vírgula que eram meus. Eu era Deus, criava um mundo à minha imagem e semelhança.
Penso que um livro que surge pelo mundo consegue fazer com que pessoas leiam, sintam, pensem, riam, chorem. A vitória do desvio da linguagem. Humanizar, talvez aqui a utilidade da poesia. Já que querem tanto uma, né Candido?

(que)roleminskiana((Mente)dizer(quem)dis)sequepoesiaéserventia?(bra)

Quero que minha palavra fira os corações mais ternos, adoçe tardes ensolaradas ou não. Pelo menos um arrepio no dia, né Fábio? Entendo o que Clarice dizia,por causa do que senti, após o término insone do livro: Será que ainda escreverei? Aqui e ali me ponho a fazer versos e prosas, gosto um dia ,outro não. Escrevo ontem, hoje não.
Principiante de um ofício possível, mas incerto. Essa a definição do dicionário para a palavra contingente. À propósito, adoro os dicionários! Trabalho inútil, num mundo cão. Vixe, que mundo punk da porra. Cada um que construa sua trincheira, porque as balas estão para os alvos e os alvos somos nós. Eu não quero sucumbir, eu quero o leite bom, o leite mau . . . auauau! Quero escolher onde botar o meu ponto final
Imagem, idéia,palavra, som. Porque o que alguns não sabem é que a palavra é mais silêncio que palavra, é mais palavra quando cala. Se eu consigo dar nome ao que sinto no mais profundo de mim, poesia. Se não consigo poesia que se escondeu e ponto


Renálide Carvalho

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