28.3.07

Ao homem da quitanda
Como se ele soubesse da minha angústia, advertiu com velhos duros olhos o resto da freguesia.
Nunca nos vimos. Sequer passado pelo bairro dele eu havia. Somente uma possibilidade: Ele também sentia. Decerto conhecia o tremular de nervos estando na presença de estranhos. Percebeu num átimo esse meu comportamento estrangeiro, esse meu bambear de pernas. Também, pudera ! Antes de abrir a boca e soltar o verso referente à minha compra, dei giro no olho procurando saber onde estava. Olhava cada produto da quitanda.
A luz que pendia da lâmpada que era acoplada ao ventilador jorrava descontínua. Nossos rostos emergiam, por isso, ora assim ora assado. E digo, isso aconteceu em minúsculos instantes de tempo de relógio.
Talvez o vento de sol se pondo em Tambiá. Rimos juntos de nossa causa secreta. Ao redor, espiavam imóveis os fregueses, era a conversa miúda caminhando por dentro do espaço entre nós. Dez bananas, quatro ovos, quatro doces, meia carteira de cigarro, um pacote de cuzcuz.
Obrigada. De nada. Boa tarde. Boa tarde.
Renálide de Carvalho Morais Fabrício.

1 comentário:

Anónimo disse...

Oi Renálide,

O melhor de um blog, penso eu, são as imagens que eles nos trazem quando lemos seu conteúdo. Quando estes são bons dezenas delas passeiam na nossa cabeça. Go on...